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Quando eu era criança, ouvia muito a minha mãe dizer ou chamar a minha atenção com a frase:
Aqui não é lugar e nem hora para isso!
O olhar era fulminante dependendo da situação, mas eram em momentos como esses que eu começava a aprender uma das maiores lições educacionais que os pais podem passar para os filhos: o onde ou quando determinam como vamos nos portar.
O ambiente é tudo o que entendemos como tempo ou espaço. É estruturalmente limitado de forma física ou pela contagem dos minutos e das horas. É uma realidade da qual não temos como fugir, mas que podemos escolher onde e quando transitar.
Nas próximas linhas vamos navegar pelo nível lógico do AMBIENTE, aquele que determina e limita nossas ações e comportamentos. Vamos tentar entender como o AMBIENTE nos influência, os efeitos dele em nossas emoções e desenvolvimento, bem como reconhecer as situações que trazem ou não benefícios para nós nesse contexto.
Onde, quando e limites
Eu não sei se essa é sua realidade de momento, mas imagine que você esteja há cinco meses desempregado. Nesse contexto, imagine que você reconhecidamente, não deseja enveredar pelos caminhos do empreendedorismo e que busca apenas opções via CLT. Convenhamos, que neste caso, não é frequentando a praia que você tomará ações nesse lugar para conseguir a sua próxima oportunidade profissional. A menos que você tenha, por meio do seu networking, um contato que ofereça uma oportunidade potencial para você e que por algum motivo vocês tenham escolhido a praia para conversar a respeito disso. Mas essa é uma teoria com pouca probabilidade de acontecimento.
De repente aquela sua vizinha, senhorinha, adora cantar em alto e bom tom enquanto se banha, mas quando está presente na missa das 7, aos domingos, ela silencia e dá toda atenção apenas às palavras do padre. Nem parece ser a mesma pessoa que canta de forma amadora no chuveiro com toda a potência para todos os vizinhos ouvirem.
Os AMBIENTES que frequentamos definem e limitam os comportamentos que executamos. E os MOMENTOS também. AMBIENTES e MOMENTOS respondem as perguntas onde e quando fazemos determinadas ações.
Os lugares e circunstâncias podem potencializar ou não favorecer as nossas ações, dificultando a liberação de recursos para executá-las. Por isso, é importante estar atento às influencias externas que produzem efeitos diretos em nós.
Muitas vezes, vivemos com pessoas, casamentos, trabalhos, namoros,"amigos", locais que não nos edificam, são frutos da ambiência que não favorece a formação da pessoa que somos ou queremos ser. Pior do que isso, é quando não fazemos nada quanto essa convivência e escolhemos permanecer em uma estrutura que não nos pertence.
Identificação do problema no ambiente
Quando por meio de um exercício de autoconhecimento, identificamos e reconhecemos que um determinado problema que enfrentamos é consequência do ambiente que frequentamos, podemos dar início ao processo de solução da adversidade.
Esse AMBIENTE pode ser a sua estação de trabalho. Você pode estar se sentindo incomodado pela bagunça de sua mesa que o impede de pensar com clareza e executar as tarefas que necessita para dar andamento ao seu trabalho. Para você, começar qualquer atividade nesse AMBIENTE só será possível depois que tudo estiver em ordem.
Esse exemplo mostra como um AMBIENTE pode te afetar, de modo a bloquear uma ação (executar as tarefas), interferindo a sua performance (colocar sua habilidades em prática), tornando como verdade a sua crença de que não consegue realizar suas tarefas nessas condições (suas crenças, sua motivação para realizar), podendo abalar a forma como você se enxerga e o seu relacionamento com as outras pessoas.
Pode ser a sua própria casa. Um lugar com uma vibe negativa, pessoas brigando todo tempo, desanimadas, que proliferam palavras desmotivadoras ou carregadas de ódio. Pode ser um ambiente de trabalho com um gestor opressor, que só sabe apontar os erros dos seus liderados, com colegas que vivem com medo e corroboram com um clima hostil.
Situações como essas nos colocam de frente com problemas dentro do lugar, do espaço, da esfera de convívio. Em casos como esses, a vida nos convida a tomar alguma atitude que exige a mudança.
Pode ser necessário mudar de área na empresa em que trabalha ou até mesmo sair do emprego, pode ser iniciar alguma terapia para lidar melhor com os conflitos quando eles acontecem, pode ser sair para dar uma caminhada para distrair a mente e deixar - mesmo que por alguns minutos - aquele local que potencializa as emoções e sentimentos indesejados.
Neste processo, a autoconsciência - primeiro pilar da inteligência emocional - exerce um papel fundamental, pois quando temos ciência das emoções e sentimentos no momento em que eles acontecem, ou seja, em que AMBIENTE (quando e onde) ocorrem, temos maiores chances de sermos mais seguros sobre o que sentimos. Consequentemente, tomamos decisões mais assertivas, escolhemos melhor nossos parceiros e a empresa ou negócio em que queremos trabalhar. Portanto, escolhemos os melhores AMBIENTES para nossas vidas.
Desde os tempos mais primórdios
Desde o início dos tempos, nós, seres humanos, tivemos a necessidade de ser sensíveis aos nossos arredores por uma questão de sobrevivência. Por isso, temos uma consciência inata que nos acostumou a buscar AMBIENTES com certas qualidades.
Portanto, temos uma forte necessidade de segurança e proteção, sendo esses atributos que buscamos nos ambientes que frequentamos. Além disso, procuramos também, AMBIENTES com conforto físico (como um lugar com a temperatura certa) e psicologicamente confortável (meio que seja familiar e que oferece a medida certa de estímulos.
O impacto emocional do ambiente
Talvez o mais importante para a saúde, seja o impacto do AMBIENTE como criador ou redutor do estresse, o que afeta o nosso corpo de diversas maneiras. Nosso cérebro, sistemas nervoso, endócrino e imunológico estão interagindo o tempo inteiro. O que pensamos, em todos os momentos, muda a nossa bioquímica.
Um lugar ou circunstância que estimula o estresse pode mexer com o humor de uma pessoa, levando para sentimento de tristeza, preocupação ou desamparo com consequências diretas no funcionamento do corpo como altas na pressão arterial, frequência cardíaca e tensão muscular.
Os hormônios liberados durante uma experiência de estresse emocional podem bloquear o funcionamento adequado do sistema imunológico, nos deixando mais vulneráveis às doenças.
Consequências desagradáveis também ocorrem quando estamos expostos a lugares ou situações que despertam a raiva, por exemplo. Quanto mais a pessoa rumina esse sentimento, mais raiva ela tem e isso mina a possibilidade que ela tem de pensar na solução de um problema e de forma racional. Em homens, pode aumentar as chances de contrair doenças cardíacas.
Como uma boa maneira de eliminar essas emoções tóxicas trazidas pelo AMBIENTE, as distrações são a chave para solucionar essas perturbações. Uma caminhada, ler um livro, planejar a próxima viagem, olhar o lado positivo das coisas (ainda que se deva reconhecer e conviver com a existência de um problema), assistir um filme. Muitas são as maneiras de encontrar em atividades ou recursos prazerosos, o antídoto para a "cura".
Troca!
Faça-se as perguntas importantes e necessárias. Entenda de onde realmente vem o problema. Se verdadeiramente ficar entendido que a questão é o AMBIENTE, não hesite em agir. Mude de lugar, distraia, ressignifique, mas faça algo a respeito.
Analise se o desconforto que você possui em um lugar não vem de uma crença limitante que você tem ou de uma habilidade ainda não desenvolvida que o impedem de aplicar o que precisa ser feito em determinado contexto. E então, comece a planejar para agir como você realmente deveria no lugar em que você está ou estará.
Por Flavio Moreira
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